Mujica, ou simplicidade!
José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai - Foto: divulgação
Por Mariana Moreira – A simplicidade praticada como experiência de vida. Jamais, ostentação. Assim, sempre enxerguei Pepe Mujica e sua trajetória política como um dos mais notáveis líderes políticos que vimos destacar-se na cena política latino-americana nos últimos tempos.
A simplicidade que traz os traços e expressões das populações mais pobres e que, secularmente, foram e continuam sendo, em muitos lugares, inclusive na América Latina, instrumento de manipulação e exploração, contribuindo, com pobreza, trabalho e vidas, para o enriquecimento de pequenos grupos políticos e econômicos.
Pepe Mujica, forjado na militância política e, muitas vezes, amargando a repressão, a tortura, o cárcere, enxergava como principal ferramenta de luta as populações carentes que, mesmo na dureza das faltas materiais, sempre manifesta o proceder da partilha de uma xícara de café, de uma rodela de pão, de um teto de taipa, de um banco de madeira a sombra de um juazeiro onde se possa descansar da lida e trocar dois dedos de prosa.
Esses os ingredientes que, cotidianamente, iam alimentando e fortalecendo as convicções que Pepe Mujica obedeceu e praticou como regras de vida.
LEIA TAMBÉM:
Seja na organização e na militância de entidades guerrilheiras que, mesmo na clandestinidade, não esqueceu os princípios que moviam suas ações: o povo e suas carências e necessidades manifestadas cotidianamente na mortalidade infantil, na ausência de terra de trabalho, na falta do pão na mesa para saciar barrigas famintas, nos andrajos que cobriam corpos esfarrapados.
Seja no exercício do poder, nas funções mais destacada do país, como presidente da República. Andando no velho Fusca e residindo no sítio onde, ao lado da companheira Lucía Topolansky, cultivava flores e alimentos para as necessidades básicas, Mujica não se deixou contagiar pela sedução efêmera do cargo, mantendo-se fiel aos princípios de vida e luta política, se fez governante sem jamais perder a perspectiva de governado. Vendo na função de governo sua característica transitoriedade permanece crente de que aos homens basta aquilo que se adequa as medidas de suas necessidades humanas.
Assim, Pepe Mujica, que nos deixou no vazio da orfandade política, se soma a tantos outros seres que, em suas mais diversas áreas, fincam sementes e estacas de um edifício de humanidade e gentileza. Sentimentos e práticas de vida que, quando seguida, nos alentam a esperança de que ainda restam fragmentos de dia nas tenebrosas noites de escuridão que proliferam miséria, exploração, esquecimento, morte.
E, mesmo na tristeza de sua partida, também me alimento na fonte de sua sabedoria e, tentando não esquecer a simplicidade da vida, sigo o filósofo Platão e te digo, Mujica: A vida inteira precisamos de graça e gentileza.
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no diariodosertao-br.noticiasdaparaiba.com/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário