Epitácio Leite e sua escola de vencer eleições

Por Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira – Caros leitores. Num recente encontro com amigos, um deles ficou reclamando sobre o fato dos rumos que a nossa política paroquial era conduzida e por que os grandes conterrâneos de nossa cidade, que se sobressaem noutros campos de nosso estado e até no país, não ocupem os cargos maiores de nossa política municipal. Eu, como uma pessoa que acompanhou a nossa política local por décadas, tive que discordar, e tentei, sem sucesso, falar das peculiaridades de nossa política municipal.
Vamos tentar explicar: Lá pelos meados do século ado, a política de Cajazeiras era comandada por um pessoal de alto nível, tanto pelo lado da UDN, quanto pelo PSD, e por vereadores que figuravam entre os melhores quadros de nossa cidade. Os recursos eram escassos e os vereadores não dispunham de remuneração, nem para si, muito menos de assessores e verbas tais como os FPM, e outros recursos do governo federal e estadual. O sistema tributário era muito mais enxuto, na acepção integral do termo, e no tempo do Cel. Matos, meu bisavô, o primeiro prefeito eleito da cidade, praticamente a única renda que e Prefeitura recebia era a da distribuição de energia elétrica, que era gerada por uma usina situada no fim da Av. Sete de Setembro, que conhecemos hoje como Praça João Pessoa. O Cel. Matos, construiu uma usina maior e mais moderna mais perto, aproximadamente onde se situa hoje um supermercado, como também um açougue Público, praticamente com recursos próprios (particulares), somente para citar um exemplo. Rigorosamente, os vereadores somente aram a receber salários a partir de 1977.
Depois da istração de Chico Rolim, Dr. Epitácio Leite Rolim foi indicado para sucede-lo. Raimundo Ferreira que disputou a última eleição para prefeito, tentou novamente a eleição, mas desta vez. Enfrentaria um candidato que fazia uma estratégia completamente diferente de política, uma “evolução” à política de Dr. Otacílio Jurema: a troca de favores pessoais, na área da clínica e ortopedia, e uma incansável capacidade de fazer o “corpo a corpo” com seus eleitores, incluindo a visitação deles nas suas residências inclusive na Zona rural, criando com cada eleitor, uma espécie de relação pessoal: Resultado: Dr. Epitácio foi eleito com uma maioria tão esmagadora, que literalmente encerrou a vida política de Raimundo Ferreira, e fez uma escola que até hoje é o modo de se fazer a campanha para prefeito na nossa cidade: Reelegeu Chico Rolim, e depois veio o homem que levou a política formulada por Dr. Epitácio ao paroxismo: Dr. Antônio Vituriano de Abreu. Esse se dedicava a fazer esse atendimento pessoal de uma forma que chegava ao surreal.
Somente para dar uma pequena ideia de como era seu comportamento, como prefeito, quando eu quis resolver uma questão de estrada vicinal sendo contestada por meus vizinhos, nós marcamos às nove horas da manhã na Prefeitura. Na hora combinada, ele tinha umas 15 pessoas para resolver seus problemas. Sentamos e esperamos. E foram chegando mais, resolvendo ou propondo as soluções, inclusive negando algum pedido insolúvel, mas recebendo a todos. Resumo da ópera: Quando deram duas da tarde, ele mandou entrarem todos os suplicantes e fez uma espécie de atendimento coletivo. Depois, saímos para ver a estrada. No caminho, eu falei: Vituriano, como é que você consegue fazer isso todos os dias? Desse jeito Deus me livre de ser Prefeito. Ela respondeu: É assim, já estou acostumado. Decerto, na volta, quando o deixamos em sua casa, já tinham umas seis pessoas o esperando na porta. Posteriormente o próprio Vituriano me falou que em uma campanha, visitava todas as casas de Cajazeiras duas vezes.
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Quando houve o êxodo rural, Dr. Epitácio visitava todos os bairros das periferias, jogando algumas partidas de sinuca nos bares e tomava duas cervejas em cada bar, enquanto ouvia o eleitorado. Com esse tipo de campanha de corpo a corpo, ele perdeu apenas uma campanha, que lutou contra a Prefeitura de Vituriano, este fazendo uma campanha acirrada, o Estado de Ronaldo Cunha Lima, este trazendo verbas e obras, e ainda assim, contra tudo e contra todos, a diferença foi de apenas 14 votos, a menor da história de Cajazeiras, bastante contestada e com o apoio de Zerinho, prefeito, foi eleito seu sucessor.
Fez escola em Cajazeiras, e o ex-prefeito José Aldemir é um adepto entusiástico dessa escola, a do corpo a corpo e do favor pessoal. Tanto que tivemos uma enorme sucessão de médicos na chefia de nossa edilidade, como Carlos Antônio e Leo Abreu, este filho de Vituriano.
Nessa última eleição, a eleita foi Corrinha Delfino, que que é da área da educação, vamos depois no desenrolar de nosso processo eleitoral, saber se esse ciclo de médicos- prefeitos tenha sido superado, mas para qualquer pessoa que algum dia tenha a aleivosia de se tornar prefeito(a) de Cajazeiras, vai ter que vir para cá e fazer o corpo a corpo com os eleitores. Essa tradição deixada por Dr. Epitácio e seus sucessores, está muito longe de acabar, tanto em Cajazeiras, que eu conheço, quanto em todas as cidades menores de nosso estado e região.
Temos excelentes quadros para dirigir nossa cidade, mas se não se submeter a esse longo e cansativo processo, suas chances de ser eleito são quase nulas, por melhor que seja sua biografia.
João Pessoa, 05 de junho de 2025.
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